domingo, 6 de janeiro de 2013



O amor pode ser perverso às vezes. Um inseguro se relaciona com outro inseguro e os mecanismos de tortura começam a ser acionados. O inseguro um por ser possessivo e ciumento e não querer lidar com as incertezas e instabilidades que só os sentimentos proporcionam, começa a batalha de tortura: mostra bens, roupas, perfumes, discursos, trejeitos – falsa segurança. O inseguro dois, por estar cego de amor, crê fatalmente na encenação do outro e tenta agradá-lo a qualquer preço, uma vez que ele se percebe como uma porcaria da existência. E assim estes dois seres, estranhos um ao outro, iniciam a sua jornada pela estrada do amor, que nada tem de amável. Se perdem em seus traumas e inseguranças, plantam novas mágoas e ferimentos para o coração. Sessões de tortura física doem menos do que qualquer tortura amorosa, ardem mais brandamente. Nada é comparável ao que se provoca com a dor de amor, ao mesmo tempo em que nada é mais terno, e por isso jamais deixamos de acreditar nele.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Foi necessário me dar o trabalho de escrever novamente aqui, já que este é o único lugar que tenho para escrever as coisas que penso sem limite de caracteres.

Indo direto ao assunto, vim até aqui falar sobre uma cantora inglesa que conheci há pouco tempo:

Beth Orton é uma moça bem delicada. Nem bonita demais, nem bonita de menos, apenas bonita o suficiente. Magrela, branquela e com algumas sardas. Voz natural e bonita.

Realmente, não sei direito se simpatizei com a menina de cara pela simplicidade e pela naturalidade de todo conjunto que ela representou aos meus olhos e ouvidos. Enfim, numa época de tanto mega hair, dentes clareados e silicone (na bunda, no queixo, no nariz, no dedo médio...) é, de fato, gritante ver uma pessoa comum.

Não mais do que isso, Beth resumiu, ao meu ver, de maneira singela e terna, todo o sentimento da geração de 90: o tédio.

É inegável que somos a geração do fracasso, do “nadismo”, do “reproducionismo”. Somos a geração de filhos dos incansáveis dos anos 60 e 70, herdando praticamente o esquecimento total das vitórias conquistadas por eles. Somos o fim da Guerra Fria e o fracasso do Comunismo. Somos filhos de um só pai, dominador e autoritário, com o tom e a voz de entretenimento e liberdade.

Guns N’ Roses, Nirvana, Alice In Chains, Pearl Jam, Rage Against the Machine, Faith No More e Red Hot Chili Pepers.

Bandas boas, ótimas. Mas, onde estão as mulheres aí? A passagem da cantora Courtney Love na banda Faith No More durou tão pouco tempo...

Sendo assim, Beth Orton me ganhou; com o troféu de uma das visões femininas mais interessantes e reveladoras da década de 90: do que foi viver nesse período insólito e igual, inerte e impaciente, insuficiente.

“You said you stood for every known abuse
That was ever promised to anyone like you”

Stolen Car, by Beth Orton



Alguns links para quem quiser olhar (existem muitos outros, é só procurar):

Stolen Car - Beth Orton

She Cries Your Name - Beth Orton

Someone's Daughter - Beth Orton

sábado, 25 de junho de 2011

Me sinto mais jovem desde que comecei a usar creme anti-rugas. É uma mentira, eu sei, as massagens faciais que tenho feito desde então com certeza devem ter produzido mais efeitos. Na verdade, não me importa muito. Com mais rugas ou não permaneço a mesma. Que vantagem teria eu em ser uma ninfetinha gostosa e abostada? Meus olhos vêem muito mais do que necessário e o espelho, é fato, não faz parte do meu dia a dia. Meus ouvidos gostariam de ficar surdos, o mais rápido possível, para não escutar as duras e sonoras palavras da realidade. Que mulherzinha de merda foi essa que me tornei? Uma Cinderela recalcada até as entranhas? O quão vantajoso foi ser a maravilhosa, a “faz tudo”, a heroína? Meus filhos já cresceram e sequer me olham na cara. O marido, ah, o marido. Seria óbvio demais falar: se acomodou. Assiste filmes pornôs, gosta de futebol e se tornou um boçal. Que vida de merda é essa, meu Deus? Por que nossas desgraças são tão parecidas? Por que eu, agora com 50 anos, sou obrigada a pensar essas porcarias que não saem da minha cabeça? Estou acabada, envelhecida. Nenhum sacrifício feito valeu à pena. Me tornei recalcada e amarga. Uma menina de três anos em corpo de uma mulher que insiste em pedir ao papai e a mamãe que retirem de si todo o medo e a ansiedade. Não fui criada para independência, fui criada para ser mulher. Companheira, secretária, parceira. Nenhum cargo que me colocasse em primeiro lugar. E aqui estou eu, a última da fila. Aquela que abriu mão de si por todos, e que agora que todos chegaram onde ambicionavam chegar, não me sinto mais amada, tampouco mais segura. Tentei não ser egoísta, mas deveria ter sido. Tentei não passar por cima da minha dignidade, mas acabei fazendo-o. Afinal é o que as mulheres fazem, não é? É o que vi as mulheres fazendo durante toda a minha. Bastava-nos encontrar um homem, leia-se uma bela vítima, e usá-lo como objeto de satisfação. Largávamos nossos planos, ambições e agressividades, tornávamos femininas. A única verdade escondida por trás desse comportamento era o medo da responsabilidade, pois se ele, o homem, fracassava, a responsabilidade era dele. Mas se ele triunfava, a vitória era nossa, de nós dois. Nunca me senti capaz de realizar minhas próprias vitórias e sentir o sabor da incerteza que elas trazem. Nunca me foi permitido sentir, pois eu era frágil e sensível. Eu era mulher.

terça-feira, 22 de março de 2011

Vingar em muitas condições, para não dizer em todas, é bom. O que estraga é o lado cristão ortodoxo no qual nos remete imediatamente ao sentimento de culpa. Sim, as leituras de auto ajuda e as frases de caminhão inevitavelmente respingam em nossas cabeças medíocres. Vingar completa, eleva. Vingar vem do desejo de fazer sentir da mesma forma que sentimos outrora, para que, a vítima, após esse sentir doloroso, tenha o reconhecimento do seu erro e, assim, poderemos perdoar aliviados, satisfeitos. Vingar deprime o suficiente para rir sarcasticamente. Desacomada o tanto necessário para distrair da chata vida cotidiana. Vingar é importante, ou melhor, necessário. Vingar é entregar a alma ao diabo, e, convenhamos, nada melhor e mais excitante do que acolher o depravado em nosso próprio corpo.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Não é preciso nostalgia para se criar poesia bonita. A qualidade é uma classificação muito subjetiva para muitas coisas diferentes.

Não creio no obvio. A obviedade não é comovente. O sofrimento comovente é inventado, manipulado e cultivado. Todos os dias, desde o acordar até ao dormir, papéis se tapeiam ao se revestirem e travestirem de verdades. Ora entristecendo, ora alegrando. Emoções falsas, forjadas, sociais. Revoltas inexplicáveis e alegrias implacáveis: mentiras. Calúnias adaptadas, embustes apropriados, apenas o apre(e)ndido.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Não sei o que fiz. Não sei por que fiz. Sequer sei dizer por que não gosto disso. Só não gosto. Ponto. Acordei de cara amarrada hoje e não tenho uma explicação decente pra isso. Fiquei contente à tarde, sem qualquer motivo relevante. De noite, chorei litros, e procurei dentro de mim, durante tempo considerável, alguma razão elucidativa: não deu pé. Não me diga o quê devo fazer. Não me diga que devo te fazer feliz. Porque não devo, nem posso. Gostaria, com certeza. Mas minhas pretensões mais pretensiosas já se acabaram há algum tempo. Esperar o quê, quando tudo que espero vem até mim totalmente ao contrário, ou jamais perto daquilo que imaginei? Tenho me forçado a não ter critérios, porque em todas as vezes em que os tive levei um tapa na cara. Um ‘vai tomar no cu’ daqueles bem grandes e enfáticos. Tudo bem eu não ser ótima, porque, aliás, meus critérios pessoais já estão incluídos nessa desconstrução interna forçada. Tudo bem você não ser ótimo também. Tudo bem não dizer o que eu quero escutar e não ser uma doce criatura. Porque, sinceramente, não sei se gostaria de verdade que fosse tudo isso. Sinto prazer em não ter tudo aquilo que gostaria. O prazer do improvável me desloca e motiva. Gosto de não saber e me desacomodar com isso. Gosto, mas sequer sei dizer por que gosto disso. Só gosto. Ponto.

domingo, 22 de agosto de 2010

Compreenda que eu não quis tanto assim. Que muitas partes de mim se desfizeram no longo passar do tempo. Que minha rigidez bloqueou minha ousadia, e a pretensão me fez desfarelar. Compreenda que talvez eu nunca tenha quisto um tanto suficiente para te fazer crer na minha vontade sóbria. Não quero perguntas, nem explicações tampouco, por que destas, já bastam as minhas. Quero coração e um pouco de sentimento. Quero, ligeiro, me desfazer no teu abraço. E depois disso, fazer passar o tempo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Talvez no íntimo, no mais bem íntimo de mim, meu incondicional amor esperava uma pequena retribuição, por menor que fosse. Meu desejo era que quisesse do fundo da tua alma compartilhar felicidades comigo. Felicidades tão e tão mesquinhas que o medo de se perderem essas pequenas felicidades no compartilhar é bem maior do que qualquer tímida alegria. Meu amor incondicional não quer, nem tampouco suporta perder. Meu amor precisa de alguns dados, muitos fatos e satisfatórios resultados para que permaneça incondicional.

terça-feira, 30 de março de 2010

Sede de infinito - nome de sentimento. Tamanha é a sede que sequer pôde aproveitar de forma profunda todas as coisas que já caíram em suas mãos. Talvez isso explique seu tamanho amor pelos livros. Os próprios livros carregam consigo o seu fim, livros não são livros sem um final. Anseia tanto começar e terminar, para começar a começar novamente. Quer tantas coisas infinitas que despreza o mais simples, de tamanho o seu querer. Quer vivências, sentimentos profundos, respostas para suas dúvidas insaciáveis. Quer desafios, quer integridade e autoconhecimento. Quer corte e quer costura, gastronomia e sociologia. Quer antes de qualquer coisa psicologia, psicologia comportamental, para querer desvendar pessoas e desintegrá-las até se resumirem em partes primárias e simples, para depois partir para o seu próximo querer. Quer entender o que existe de complexo e circular para depois torná-lo linear. Quer entender o lado humano de todas as coisas da maneira mais lógica e exata que pode existir.

terça-feira, 16 de março de 2010

Alisamos nossos cabelos, pintamos nossas unhas, entupimos com maquiagens nossos poros. Exercitamos os músculos até crescerem tanto que não conseguimos nos movimentar com naturalidade, usamos sapatos de salto alto e calças jeans apertadas... Estamos tão acostumados a lutar contra nossa natureza que os desconfortos e incômodos já fazem parte das nossas vidas. Apertos, sensações de inadequação se tornaram aqueles nossos companheiros mais trabalhosos...

Nossa sorte, ou nosso azar, é o fato certeiro de que tudo aquilo que procura quebrar, mascarar, modificar a natureza das coisas dura muito, muito pouco tempo. É a realidade gritando conosco: - Parem! Parem agora de fingir esperteza e superioridade por apenas possuírem inteligência mais aguçada!

De que adianta ser o animal ‘questionador’ da natureza, se tudo o que fazemos é negar a existência dela dentro em nós?

Quando catamos os destroços de tudo àquilo que foi instituído sobre como ser homem e como ser mulher na sociedade em que nos encontramos, o estomago embrulha rude e grosseiramente. Até que ponto viemos nos mantendo aos trancos?

Dia desses me permiti experimentar parar de lutar contra tudo isso. Sim, me permiti em anos ser aquilo que de fato sou: um bicho, de cabelo emaranhado, unhas sujas e dentes estragados, sem enfeites nem confetes. Foi quando percebi que toda energia que é despendida diariamente para lutar contra minha natureza cansa muito e dura um tempo insignificante comparado à quantidade de esforço.

O engraçado de acharmos nojento ser o que de fato somos é negarmos isso da maneira mais animalesca que pode existir: com nossas unhas e dentes.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Escrever não é coisa dos gênios. Há muito tenho pensado sobre isso e agora concluo que nada de esplendoroso existe em escrever. O escritor é um jogador, e tem pra todos os gostos: os perspicazes, os que não saem do lugar, os ansiosos para vencer a qualquer preço... Joga-se com os sentimentos, com as palavras e com as rimas. Joga-se com situações chocantes e com situações sem-graça. Ser poeta, ser cronista, é muito simples hoje em dia: falamos algumas merdas, algumas idéias não convencionais e pronto, somos escritores fantásticos ainda não descobertos. Mas o pior não talvez não seja isso. O pior é nos sentirmos escritores 'grande coisa', isso sim é o pior. Entrelinhas, rima, métrica. Vão tudo pro espaço, eu quero mais é escrever errado.

domingo, 25 de outubro de 2009

Talvez, finalmente, eu tenha começado a perceber o quanto o controle, o apego e o medo estão presentes nas minhas relações. E isso me deixou bastante chateada. Existem controladores por todos os lados, e acredito que eu tenha percebido isso somente agora, porque estou me tornando mais consciente do meu próprio controle em relação aos outros.

Estamos todos apegados a ideais de relações, de comportamentos e de palavras a serem ditas, que não sabemos mais, depois de um tempo, se amamos aquelas pessoas que acreditamos existirem, ou amamos as pessoas que realmente existem. Confesso que estou em estado de choque. A quantidade de controle presente em minha vida é enorme e absurda. Nunca pensei (de maneira consciente) que fosse assim, mas agora tudo parece tão obvio.

Aquele costume, que todos temos, de formar pessoas perfeitas com atitudes perfeitas em nossas mentes e esperarmos simplesmente que alguém, ou alguns, correspondam a essas expectativas me pareceu tão infantil.

Argumentos para culpar aos outros não faltam: ‘Você faz isso... Você não faz aquilo...’. Perdemos muito tempo preocupados com os outros, quando, na verdade, não podemos exercer um controle real sobre ninguém. Isso é completamente ilusório.

E quando gritam alegando injustiças e incoerências na minha maneira de ser e agir, prefiro não discutir. Existem tantas verdades, tantos valores, tantos moldes, tantas expectativas, que seria insano da minha parte tentar discutir e defender o meu ponto vista. Tentar moldar a mente de quem discorda de mim também seria uma forma de controle. E de controles eu quero distância.

Enquanto meu coração estiver em paz, seguirei fazendo as coisas que faço e falando sobre aquilo que acredito e tenho vontade de falar, porém, quando ele me fizer sentir que algo não está bem, pararei então para pensar. Do contrario, opiniões sobre o que faço e falo sempre irão existir, e estas eu não posso controlar, nem tampouco desejo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O vestido que chegou naquele pacote bonito e que, à primeira vista, acreditei que se encaixaria perfeitamente em meu corpo, não serviu. Não serviu a mim. Quando o observei de perto, quando pude tocá-lo e senti-lo mais intimamente, me ocorreu à idéia, até então bem distante, de que talvez não fosse encaixar tão facilmente. Sim, suspeitei do não cabimento daquilo, mas, primeiro, precisei me despir e experimentar. Nem tudo encaixa perfeitamente, pura e simplesmente. Na verdade quase nada. Sempre é necessário fazermos alguns ajustes, cortarem-se umas partes ali, cederem-se outras aqui e aí finalmente, sim, as formas poderão então entrar em sintonia com as minhas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Somos condicionados, desde bem pequenos, a acreditar que nossos pais sabem e devem saber o que é o melhor para gente. Sim, isso faz sentido, em nossos primeiros anos de vida, que somos jovens demais para discernir o que nos faz bem, escolher o que devemos comer, vestir, falar. Não temos um caráter ou uma personalidade formada, que nos indique o que nos serve e o que não. Muito menos sabemos lidar com nossos emoções e sentimentos a fim de expressá-los e entendê-los.

Sim, nossos pais sabem o que é o melhor para gente nessas condições. Mas o fato é que sabem o que é o melhor baseados em experiências próprias, tais como sentimentos e carências exclusivas deles mesmos. O melhor que nos foi composto, e imposto, é creditado em necessidades de outra criatura, ou melhor, de duas criaturas, as criaturas nos fizeram.

É preciso humildade para perceber as reais necessidades dos filhos. Não somente nossos pais, mas nós mesmos estamos tão perdidos e distraídos em nossos problemas, que acreditamos que o mundo inteiro necessita das mesmas coisas que nós, sem perceber que cada um possuí características inatas com necessidades peculiares, que só serão supridas no momento em que forem observadas de verdade.

Nossos pais não nos criam para sermos criaturas independentes e plenas, que são fiéis a si mesmas. Somos pequenos projetos de erros e acertos deles. Os erros para serem consertados e os acertos para serem melhorados. Somos os responsáveis por fazer melhor do que eles fizeram, somos as novas chances de eles acertarem. Muitos pais não conhecem os próprios filhos.

O principio da crise existencial no período da adolescência se encontra aí, quando começamos a nos questionar e percebemos, mesmo que inconscientemente, que estamos sendo submetidos a necessidades que muitas vezes não são nossas, e nos indignamos com isso. Ironicamente a adolescência é intitulada pelos pais como o período da rebeldia. Previsivelmente, ninguém quer ver seus ‘pertences’ criando vida própria e se libertando. Sim, muitos pais acreditam que os filhos pertencem a eles. Soa como ‘eu fiz você e você precisa ser do jeito que eu quero’.

Crescemos demais acostumados com a aprovação de nossos pais, e muitas vezes anulamos a nós mesmos para obter essa aprovação. Confundimos aprovação com amor e, a partir dessa necessidade de aprovação iniciada pelos pais, acreditamos necessitar da aprovação do mundo inteiro, ou pelo menos boa parte dele.

É absurda a insegurança que sentimos quando não somos aprovados pelos nossos pais e, mais tarde, pelas pessoas. Fomos ensinados a não sermos fiéis a nós mesmos e nos magoamos constantemente devido a isso. Até quando permitiremos que isso aconteça? Todos nós tivemos, somos e seremos pais, amigos, colegas opressores, e muitas vezes não percebemos, por que todo esse jogo de forças está escondido nas pequenas coisas, no dia a dia, nas sutilezas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Querida,
Peço que me perdoe por aparecer somente agora tanto tempo depois que todas aquelas coisas aconteceram contigo, peço perdão por não aparecer antes. Preferi me retrair e não interferir em tuas decisões, por que, como você sabe muito bem, quando sou solicitada a dar conselhos e opiniões sobre a vida alheia me torno uma pessoa imediatamente moralista e irredutível. Reconhecendo minha falha, por mais estranho que isso possa parecer, resolvi me abster de qualquer opinião ou verdade que te fosse conveniente. Sabe, querida, compreendi, durante todo esse tempo em que ficamos afastadas, inúmeras das minhas imperfeições, e a medida em que cada uma se revelava eu me senti o mais desprezível dos seres. Não tenho moral suficiente para aconselhar ou julgar quem quer que seja. Peço desesperadamente que esqueça todos os meus pseudoconselhos carregados de ressentimentos meus. Nessas minhas pequenas autodescobertas reinventei algumas verdades, antes absolutas, mas que agora entendo que são absolutamente relativas. Tão relativas quanto tudo aquilo que está ao alcance de nossos olhos e ouvidos. Vivemos em um mundo que nos faz acreditar que temos controle sobre tudo, e que a vitória superficial é, sim, válida. Queremos controlar o futuro, a saúde e o imprevisto. Achamos que podemos julgar as pessoas pelas ofensas que elas nos causam e causaram sem nem tentar entender o porquê daquilo. Felicidade é sentimento, não aparência de. Entenda, querida, de uma vez por todas, que estar contra tudo por simplesmente estar não te torna mais original, muito pelo contrário, te torna mais um rebelde sem causa no mundo, que mais destrói e bagunça as coisas e contribui muito pouco para nossa possível e tão sonhada lucidez total. Ser original hoje em dia é difícil, tudo o que podia ser inventado já foi e cá estamos nós tentando misturar toda essa criatividade solta tentando ver quais serão os próximos monstros iremos criar. Sim, por isso não te escrevi antes, minha mente está tão confusa quanto a sua, não tenho condições de ampliar teus horizontes. Tenho mais dúvidas do que respostas e preciso delas para me situar, mas enxergo somente nuvens carregadas na minha frente: repletas de interrogações. Não quero mais escrever, querida. Me determinei vir até aqui apenas para pedir desculpas, e imploro que pare de exigir opiniões e um ombro amigo, não posso fazer isso. As minhas verdades, felicidades e prazeres não são os teus, então, por favor, afunda em ti mesma e descobre o que é bom ou ruim, certo ou errado, bonito ou feio, pra ti. Não exija de mim a consideração e apoio que não dás a ti mesma, estou cansada de te pegar no colo e ninar. Deu. Te amo, mas não posso te defender eternamente das maldades das pessoas e do mundo. Desculpa, querida, mas as minhas privações não te impedirão de crescer.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sempre é percebida a nostalgia pela qual as pessoas rememoram a infância. Confesso que nunca entendi esse processo direito, sempre quis refletir mais sobre. Não que a infância não seja uma fase interessante, de descobertas, de ingenuidade e alegria, sim, ela é tudo isso e mais, disso nunca duvidei. Mas, se analisarmos mais a fundo, poderemos constatar que é, com certeza, infantilidade das pessoas quererem retornar à infância por simplesmente retornar. A infância não pode ser recuperada, assim como tudo aquilo que faz parte do passado. As pessoas escolhem soluções ‘simplistas’ para solucionar seus anseios atuais, visto que o retornar é inatingível, o que passou não pode voltar, e assim temos todos problemas sem soluções realistas.

A maturidade é algo conquistado com tanto esforço, que acaba se tornando um peso para grande maioria, e surge daí também a idéia errônea de que na infância tudo é maravilhoso e de que não sofríamos, e isso está completamente errado. Sofríamos sim, talvez até mais do que hoje, por que não tínhamos capacidade suficiente para compreender que o mundo não era só nosso, nem feito apenas para nós.

Quando conquistamos a maturidade desenvolvemos nossa independência em relação a outras pessoas e desenvolvemos, se quisermos, é claro, a capacidade de lidar (com) e entender nossos sentimentos. A infância é por nós valorizada e glorificada, por que não queremos nos dar a chance de crescer e se libertar do que quer que seja.

Na infância não compreendemos direito aquilo que sentimos, não temos maturidade emocional para explicar e trabalhar nossos sentimentos, então, o que fazemos é chorar, chorar, chorar, até que alguém resolva compensar essa nossa lacuna com um afago, um brinquedo, ou um doce. Somos ‘indefesos’, ingênuos e dependentes, esperamos que alguém resolva nossas dores e nossos anseios.

Esquecemos, quando adultos, de que quando dependemos de alguém não temos liberdade para decidir as coisas, precisamos da aprovação alheia, do consentimento alheio. Acredito que ninguém, de verdade, queira depender de alguém, seja essa pessoa um pai, uma mãe, um irmão, um amigo, um namorado. Para quê? Quando dependemos da compreensão e atitude alheia sempre acabaremos nos decepcionando, por que as únicas pessoas capazes de nos fazer crescer, maturar e libertar, somos nós mesmos. As pessoas não têm a capacidade de saber o que se passa na mente, no coração e na alma da gente, portanto, cabe a nós mesmos decidir o que queremos de nossas vidas, de nossas escolhas, de nossas relações e de nossos sentimentos, mais ninguém.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Faço jus aos feminismos do meu ser quando sou delicada, compreensiva, amada. Quando sou bruxa, sou o quê? Alguém sem sexo, identidade. Me torno aquela, que não me é nem um pouco desconhecida, minha graciosa maldade. Faço clarear à mente, as idéias e a base de todo o meu rancor, para que por fim, meu coração, se deságüe diante de tanto ardor.

Destruo e apago, todos aqueles sonhos piegas que mantenho há tanto tempo, o pó que deles é resto, suja o chão esbranquiçado e antes limpo, esmago a sujeira com a sola dos meus sapatos justos, aperto o calcanhar com força petrificada e me desminto.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

É tão difícil se fazer entender, descrever as coisas com aproximação assombrosa, ser compreendido sem distorções, por mais que se tente. É sutil a linha que separa o entendimento e a realidade do medo insano de se perder.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Formação de palavras: normal (norma + al).

Desde quando a norma se tornou o normal?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ganhei o dia no fim do dia.