sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A última coisa que quero é reviver o passado através de pensamentos e lembranças que insistem em gotejar na minha mente. Memória seletiva, é isso que eu tenho. Certas coisas esqueço com tanta facilidade que até me surpreendo, enquanto outras recordo com nitidez assustadora. Cores, toques e principalmente cheiros. Lembranças estas que fazem meu coração doer, mas, no meu rosto, nada se pode notar. Acabo de novo me torturando em busca das mesmas perguntas que, quem sabe um dia, obterei as respostas. Por quê, afinal?

Os dramas do passado insistem em voltar, quando, na realidade, nem os do presente consigo resolver.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Olhei por cima algumas postagens antigas deste blog, fiquei extasiada com a quantidade de merdas que já pensei e escrevi, mais ainda com a quantidade de erros de Português contidos nos textos. Eu, como estudante fervorosa de Letras, não me culpo por não saber todas as regras chatas do nosso Português Brasileiro, pois tenho consciência de que tudo isso não é uma falha somente minha, na verdade sou apenas o resultado de uma seqüência de acontecimentos históricos e sociais sofridos por nossa população em geral. Portanto, considero incoerente julgar alguém que escreva errado, quando na verdade isto só confirma as falhas e a falta de sentido nos métodos de ensino de língua atuais, pois, se caso fossem eficientes, todos nós escreveríamos muito bem, obrigado.

Os alunos de ensino médio e fundamental que escrevem um pouco melhor que a média, em sua maioria, é por simples interesse particular, enquanto aqueles que dependem do estímulo da escola encontram-se perdidos entre verbos e conjugações. Aprende-se a escrever um pouco mais ‘corretamente’ na faculdade, e isso é uma vergonha, digo isso como estudante de Letras, quanto aos outros cursos não faço idéia. O que vale a pena lembrar é que a língua é um instrumento de comunicação e a escrita uma forma de sua utilização que, obviamente, exige o uso de convenções pré-estabelecidas, caso contrário cada pessoa escreveria da maneira que quisesse.

O ponto é: a supervalorização das convenções, pois, é sempre bom lembrar que embora elas existam, o que importa realmente é o conteúdo dos textos. Já vi professores no Ensino Médio criticando alguns escritores e cronistas pelos erros de Português presentes nos livros, jornais, revistas. Tudo bem, mas estes livros, jornais, revistas provavelmente tenham um corretor ortográfico exclusivamente pago para essa função, e não é que ele erra e não percebe também? Essa tendência geral de não dar crédito para quem comete erros de português é totalmente preconceituosa, temos tantas pessoas sensíveis e com tantas coisas legais para dizer, mas que muitas vezes não são levadas a sério por sua maneira de escrever e, juro, é assim mesmo que acontece. Analisando dessa forma, as convenções da escrita ao contrário de facilitar, dificultam.

Obs: Eu não sei tirar férias.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Seus cabelos escuros contrastavam com sua pele clara e esbranquiçada. Sua postura era sempre arrogante e imponente, por mais que, às vezes, não quisesse parecer desta forma. Possuía um rosto bonito com traços fortes, olhar profundo, boca farta e pálida.

Eu a achava linda, me perdia inúmeras vezes contemplando a sua beleza demasiadamente confusa. O modo como piscava, falava e se movimentava, todos os seus gestos pareciam ser pré-estudados e planejados. Movimentos estes que evidenciavam a delicadeza na qual ela tanto teimava em esconder.

Raramente sorria, era discreta. Chegava tímida e aos poucos tomava a atenção das outras pessoas, ora por sua excentricidade, ora por sua ousadia. Era charmosa sem se tornar vulgar, era requintada e complexa, mas ao mesmo tempo simples e pobre. Gostava de cores quentes e vivas, apreciava os gostos fortes, as bebidas, os temperos e os tabacos.

Para os que não a conheciam transmitia uma imagem frívola, descrente e desapegada, porém bastava um pouco de aproximação para sentir a profunda intensidade de seus sentimentos, jamais superficiais, ardia com suas paixões e, por conseqüência, com seus ódios também.

Lutava internamente pelo equilíbrio, por cansar de si mesma muitas vezes, cansar de seus sentimentos extremados. Acreditava em alguma força divina superior, embora a descrença, às vezes, lhe batesse a porta, porém sua fé e necessidade vital de crer em algo maior permitiam que rapidamente retornasse as suas crenças anteriores. Apegava-se com facilidade às coisas, mais ainda às pessoas, existia muita raiva dentro dela, muito desespero.

Escondia-se atrás de uma maquiagem pesada, cabelos ondulados, unhas avermelhadas. Por ironia do destino, filha única. Além de todos os seus demônios, carregava consigo o peso e a culpa de ser única, exclusiva, amada e não se sentir digna de tal profecia, por ser egoísta e cruel, uma dama. Seus mistérios, os quais nunca conseguirei descrever em totalidade, me encantavam e muitas vezes flagrei-me perguntando a Deus o que Ele planejou ao colocar aquela doce flor delicada em minha vida, na verdade, em nossas vidas.

O que me doía, ainda me lembro, era a sua visível infelicidade. Sua inadaptação e sua luta constante contra si mesma. Não se acreditava merecedora da felicidade, ou digna de qualquer bem estar, de qualquer afeto. No seu íntimo, ela se sentia um verme perto de todos os outros, seu maior erro era comparar-se.

Com sua ingenuidade observava outros rostos satisfeitos e sorridentes, enquanto ela chorava por dentro tentando entender seus demônios internos. Era insegura, mas não havia motivos para ser. Não se amava. Destruía-se lentamente toda vez que encostava algum copo de cristal fino em seus lábios, entorpecia-se. Suicidava-se toda vez que, com sua piteira, tragava o mais forte dos cigarros. Baforava lentamente a fumaça escura, e aquele gesto me dava arrepios, pois depois procurava alguém que a estivesse observando e, como ela mesma previa, sempre haveria alguém extasiado por sua quase perfeição de existir.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Cérebro, eu quero descansar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A melhor maneira de entender o papel da literatura é encarando-a como uma forma de atuação dentro da sociedade, onde ocorre a troca de informações, conhecimento e idéias, reconhecendo que sua dinâmica é essencial e vital para até mesmo o mais ‘inculto’ dos homens.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A gente, às vezes, faz coisas sabendo que vai dar errado. Eu, por exemplo, sempre soube que quando se coloca café no microondas não dá certo. Por quê? Não dá, simples. Esfria rápido, não solta fumaça por mais quente que esteja e a xícara queima quando tocada. Tudo bem, já tinha prometido a mim mesma nunca mais tomar café de microondas, nunca. Quantas coisas prometi jamais voltar a fazer? Então, hoje, a praticidade falou mais alto, ou então o esquecimento, porque eu sabia que não gostava de café de microondas, mas não lembrava mais o porquê. Pego a caneca com aquele líquido escuro e gelado, coloco naquele eletrodoméstico desgraçado que, segundo a maioria, facilita a vida, mas eu discordo totalmente, e ligo o botão. Um minuto, um minuto e meio. Um alarme curto, agudo e infeliz. Acrescento açúcar, claro. Bebo. Droga. Acabo de recordar por que não gosto de café no microondas, afinal como esquecer? Onde se aciona o nosso dispositivo de sobrevivência nessas horas? Pois você já passou por aquela situação milhões de vezes, já deu um basta, e em um dia qualquer esquece tudo e nem sabe o motivo de tanto ódio e repulsa. Minha revolta não se resume à apenas cafés de microondas, mas a todas aquelas coisas que você sabe que não têm solução, não têm jeito, mas que do nada se esquece tudo e põe fé, para não se dizer conservador e radical, para dar uma nova chance, por simplesmente estar disposto a renovar os velhos conceitos. Como eu poderia esquecer? Café de microondas queima a língua, e não simplesmente queima de leve, queima mesmo, de verdade. No primeiro gole já percebo: existem coisas que simplesmente não mudam.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Catei um dos livros meus que havia lido há anos e resolvi folhear, quando me deparei com esse trecho desesperado e realista:

'Não existe nada, nada, nada nesse mundo pós big-bang, nada nessa nossa galáxia em expansão, nada em todo meu ser incompleto e já em decomposição, nada que eu odeie mais do que pipoca no cinema. Eu não odeio pipoca enquanto instituição, não é isso que quero dizer. Odeio pipoca no cinema, naqueles sacos de cinco quilos com um ser humano por trás, em algum lugar. Esse tipo de pipoca. Odeio o que isso significa, que é a distorção completa do que era pra ser cinema. Cinema era para ser olhado e ouvido e sentido, e agora passou a ser comido e nossa civilização toda está indo pelo ralo, no sentido horário ou anti-horário, nunca sei, por coisas como essas, que parecem mínimas aos desatentos, mas não são. A coisa toda começa na pipoca e termina em algum holocausto, é o que eu acho. É contra isso que luto. Lutei toda uma vida, olhando feio, olhando mais feio, olhando com todo o meu mais feio eu, para quem portasse um daqueles containers perto de mim'.

Não que eu vá abdicar da pipoca, mas esse desespero travestido de humor é encantador.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Existir é simples, mais ainda cômodo. Quem existe age de forma automática. A falta de reflexão nos permite uma existência leviana. A leviandade se torna generalizada. O que faz alguém não se permitir ter sensibilidade suficiente para detectar coisas que façam mais sentido? A rigidez? O medo? Sentir dor é inevitável, acreditar na sua inexistência nos faz hipócritas. Viver desta maneira me comove.