terça-feira, 22 de setembro de 2009

Somos condicionados, desde bem pequenos, a acreditar que nossos pais sabem e devem saber o que é o melhor para gente. Sim, isso faz sentido, em nossos primeiros anos de vida, que somos jovens demais para discernir o que nos faz bem, escolher o que devemos comer, vestir, falar. Não temos um caráter ou uma personalidade formada, que nos indique o que nos serve e o que não. Muito menos sabemos lidar com nossos emoções e sentimentos a fim de expressá-los e entendê-los.

Sim, nossos pais sabem o que é o melhor para gente nessas condições. Mas o fato é que sabem o que é o melhor baseados em experiências próprias, tais como sentimentos e carências exclusivas deles mesmos. O melhor que nos foi composto, e imposto, é creditado em necessidades de outra criatura, ou melhor, de duas criaturas, as criaturas nos fizeram.

É preciso humildade para perceber as reais necessidades dos filhos. Não somente nossos pais, mas nós mesmos estamos tão perdidos e distraídos em nossos problemas, que acreditamos que o mundo inteiro necessita das mesmas coisas que nós, sem perceber que cada um possuí características inatas com necessidades peculiares, que só serão supridas no momento em que forem observadas de verdade.

Nossos pais não nos criam para sermos criaturas independentes e plenas, que são fiéis a si mesmas. Somos pequenos projetos de erros e acertos deles. Os erros para serem consertados e os acertos para serem melhorados. Somos os responsáveis por fazer melhor do que eles fizeram, somos as novas chances de eles acertarem. Muitos pais não conhecem os próprios filhos.

O principio da crise existencial no período da adolescência se encontra aí, quando começamos a nos questionar e percebemos, mesmo que inconscientemente, que estamos sendo submetidos a necessidades que muitas vezes não são nossas, e nos indignamos com isso. Ironicamente a adolescência é intitulada pelos pais como o período da rebeldia. Previsivelmente, ninguém quer ver seus ‘pertences’ criando vida própria e se libertando. Sim, muitos pais acreditam que os filhos pertencem a eles. Soa como ‘eu fiz você e você precisa ser do jeito que eu quero’.

Crescemos demais acostumados com a aprovação de nossos pais, e muitas vezes anulamos a nós mesmos para obter essa aprovação. Confundimos aprovação com amor e, a partir dessa necessidade de aprovação iniciada pelos pais, acreditamos necessitar da aprovação do mundo inteiro, ou pelo menos boa parte dele.

É absurda a insegurança que sentimos quando não somos aprovados pelos nossos pais e, mais tarde, pelas pessoas. Fomos ensinados a não sermos fiéis a nós mesmos e nos magoamos constantemente devido a isso. Até quando permitiremos que isso aconteça? Todos nós tivemos, somos e seremos pais, amigos, colegas opressores, e muitas vezes não percebemos, por que todo esse jogo de forças está escondido nas pequenas coisas, no dia a dia, nas sutilezas.