sábado, 25 de junho de 2011

Me sinto mais jovem desde que comecei a usar creme anti-rugas. É uma mentira, eu sei, as massagens faciais que tenho feito desde então com certeza devem ter produzido mais efeitos. Na verdade, não me importa muito. Com mais rugas ou não permaneço a mesma. Que vantagem teria eu em ser uma ninfetinha gostosa e abostada? Meus olhos vêem muito mais do que necessário e o espelho, é fato, não faz parte do meu dia a dia. Meus ouvidos gostariam de ficar surdos, o mais rápido possível, para não escutar as duras e sonoras palavras da realidade. Que mulherzinha de merda foi essa que me tornei? Uma Cinderela recalcada até as entranhas? O quão vantajoso foi ser a maravilhosa, a “faz tudo”, a heroína? Meus filhos já cresceram e sequer me olham na cara. O marido, ah, o marido. Seria óbvio demais falar: se acomodou. Assiste filmes pornôs, gosta de futebol e se tornou um boçal. Que vida de merda é essa, meu Deus? Por que nossas desgraças são tão parecidas? Por que eu, agora com 50 anos, sou obrigada a pensar essas porcarias que não saem da minha cabeça? Estou acabada, envelhecida. Nenhum sacrifício feito valeu à pena. Me tornei recalcada e amarga. Uma menina de três anos em corpo de uma mulher que insiste em pedir ao papai e a mamãe que retirem de si todo o medo e a ansiedade. Não fui criada para independência, fui criada para ser mulher. Companheira, secretária, parceira. Nenhum cargo que me colocasse em primeiro lugar. E aqui estou eu, a última da fila. Aquela que abriu mão de si por todos, e que agora que todos chegaram onde ambicionavam chegar, não me sinto mais amada, tampouco mais segura. Tentei não ser egoísta, mas deveria ter sido. Tentei não passar por cima da minha dignidade, mas acabei fazendo-o. Afinal é o que as mulheres fazem, não é? É o que vi as mulheres fazendo durante toda a minha. Bastava-nos encontrar um homem, leia-se uma bela vítima, e usá-lo como objeto de satisfação. Largávamos nossos planos, ambições e agressividades, tornávamos femininas. A única verdade escondida por trás desse comportamento era o medo da responsabilidade, pois se ele, o homem, fracassava, a responsabilidade era dele. Mas se ele triunfava, a vitória era nossa, de nós dois. Nunca me senti capaz de realizar minhas próprias vitórias e sentir o sabor da incerteza que elas trazem. Nunca me foi permitido sentir, pois eu era frágil e sensível. Eu era mulher.