domingo, 25 de outubro de 2009

Talvez, finalmente, eu tenha começado a perceber o quanto o controle, o apego e o medo estão presentes nas minhas relações. E isso me deixou bastante chateada. Existem controladores por todos os lados, e acredito que eu tenha percebido isso somente agora, porque estou me tornando mais consciente do meu próprio controle em relação aos outros.

Estamos todos apegados a ideais de relações, de comportamentos e de palavras a serem ditas, que não sabemos mais, depois de um tempo, se amamos aquelas pessoas que acreditamos existirem, ou amamos as pessoas que realmente existem. Confesso que estou em estado de choque. A quantidade de controle presente em minha vida é enorme e absurda. Nunca pensei (de maneira consciente) que fosse assim, mas agora tudo parece tão obvio.

Aquele costume, que todos temos, de formar pessoas perfeitas com atitudes perfeitas em nossas mentes e esperarmos simplesmente que alguém, ou alguns, correspondam a essas expectativas me pareceu tão infantil.

Argumentos para culpar aos outros não faltam: ‘Você faz isso... Você não faz aquilo...’. Perdemos muito tempo preocupados com os outros, quando, na verdade, não podemos exercer um controle real sobre ninguém. Isso é completamente ilusório.

E quando gritam alegando injustiças e incoerências na minha maneira de ser e agir, prefiro não discutir. Existem tantas verdades, tantos valores, tantos moldes, tantas expectativas, que seria insano da minha parte tentar discutir e defender o meu ponto vista. Tentar moldar a mente de quem discorda de mim também seria uma forma de controle. E de controles eu quero distância.

Enquanto meu coração estiver em paz, seguirei fazendo as coisas que faço e falando sobre aquilo que acredito e tenho vontade de falar, porém, quando ele me fizer sentir que algo não está bem, pararei então para pensar. Do contrario, opiniões sobre o que faço e falo sempre irão existir, e estas eu não posso controlar, nem tampouco desejo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O vestido que chegou naquele pacote bonito e que, à primeira vista, acreditei que se encaixaria perfeitamente em meu corpo, não serviu. Não serviu a mim. Quando o observei de perto, quando pude tocá-lo e senti-lo mais intimamente, me ocorreu à idéia, até então bem distante, de que talvez não fosse encaixar tão facilmente. Sim, suspeitei do não cabimento daquilo, mas, primeiro, precisei me despir e experimentar. Nem tudo encaixa perfeitamente, pura e simplesmente. Na verdade quase nada. Sempre é necessário fazermos alguns ajustes, cortarem-se umas partes ali, cederem-se outras aqui e aí finalmente, sim, as formas poderão então entrar em sintonia com as minhas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Somos condicionados, desde bem pequenos, a acreditar que nossos pais sabem e devem saber o que é o melhor para gente. Sim, isso faz sentido, em nossos primeiros anos de vida, que somos jovens demais para discernir o que nos faz bem, escolher o que devemos comer, vestir, falar. Não temos um caráter ou uma personalidade formada, que nos indique o que nos serve e o que não. Muito menos sabemos lidar com nossos emoções e sentimentos a fim de expressá-los e entendê-los.

Sim, nossos pais sabem o que é o melhor para gente nessas condições. Mas o fato é que sabem o que é o melhor baseados em experiências próprias, tais como sentimentos e carências exclusivas deles mesmos. O melhor que nos foi composto, e imposto, é creditado em necessidades de outra criatura, ou melhor, de duas criaturas, as criaturas nos fizeram.

É preciso humildade para perceber as reais necessidades dos filhos. Não somente nossos pais, mas nós mesmos estamos tão perdidos e distraídos em nossos problemas, que acreditamos que o mundo inteiro necessita das mesmas coisas que nós, sem perceber que cada um possuí características inatas com necessidades peculiares, que só serão supridas no momento em que forem observadas de verdade.

Nossos pais não nos criam para sermos criaturas independentes e plenas, que são fiéis a si mesmas. Somos pequenos projetos de erros e acertos deles. Os erros para serem consertados e os acertos para serem melhorados. Somos os responsáveis por fazer melhor do que eles fizeram, somos as novas chances de eles acertarem. Muitos pais não conhecem os próprios filhos.

O principio da crise existencial no período da adolescência se encontra aí, quando começamos a nos questionar e percebemos, mesmo que inconscientemente, que estamos sendo submetidos a necessidades que muitas vezes não são nossas, e nos indignamos com isso. Ironicamente a adolescência é intitulada pelos pais como o período da rebeldia. Previsivelmente, ninguém quer ver seus ‘pertences’ criando vida própria e se libertando. Sim, muitos pais acreditam que os filhos pertencem a eles. Soa como ‘eu fiz você e você precisa ser do jeito que eu quero’.

Crescemos demais acostumados com a aprovação de nossos pais, e muitas vezes anulamos a nós mesmos para obter essa aprovação. Confundimos aprovação com amor e, a partir dessa necessidade de aprovação iniciada pelos pais, acreditamos necessitar da aprovação do mundo inteiro, ou pelo menos boa parte dele.

É absurda a insegurança que sentimos quando não somos aprovados pelos nossos pais e, mais tarde, pelas pessoas. Fomos ensinados a não sermos fiéis a nós mesmos e nos magoamos constantemente devido a isso. Até quando permitiremos que isso aconteça? Todos nós tivemos, somos e seremos pais, amigos, colegas opressores, e muitas vezes não percebemos, por que todo esse jogo de forças está escondido nas pequenas coisas, no dia a dia, nas sutilezas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Querida,
Peço que me perdoe por aparecer somente agora tanto tempo depois que todas aquelas coisas aconteceram contigo, peço perdão por não aparecer antes. Preferi me retrair e não interferir em tuas decisões, por que, como você sabe muito bem, quando sou solicitada a dar conselhos e opiniões sobre a vida alheia me torno uma pessoa imediatamente moralista e irredutível. Reconhecendo minha falha, por mais estranho que isso possa parecer, resolvi me abster de qualquer opinião ou verdade que te fosse conveniente. Sabe, querida, compreendi, durante todo esse tempo em que ficamos afastadas, inúmeras das minhas imperfeições, e a medida em que cada uma se revelava eu me senti o mais desprezível dos seres. Não tenho moral suficiente para aconselhar ou julgar quem quer que seja. Peço desesperadamente que esqueça todos os meus pseudoconselhos carregados de ressentimentos meus. Nessas minhas pequenas autodescobertas reinventei algumas verdades, antes absolutas, mas que agora entendo que são absolutamente relativas. Tão relativas quanto tudo aquilo que está ao alcance de nossos olhos e ouvidos. Vivemos em um mundo que nos faz acreditar que temos controle sobre tudo, e que a vitória superficial é, sim, válida. Queremos controlar o futuro, a saúde e o imprevisto. Achamos que podemos julgar as pessoas pelas ofensas que elas nos causam e causaram sem nem tentar entender o porquê daquilo. Felicidade é sentimento, não aparência de. Entenda, querida, de uma vez por todas, que estar contra tudo por simplesmente estar não te torna mais original, muito pelo contrário, te torna mais um rebelde sem causa no mundo, que mais destrói e bagunça as coisas e contribui muito pouco para nossa possível e tão sonhada lucidez total. Ser original hoje em dia é difícil, tudo o que podia ser inventado já foi e cá estamos nós tentando misturar toda essa criatividade solta tentando ver quais serão os próximos monstros iremos criar. Sim, por isso não te escrevi antes, minha mente está tão confusa quanto a sua, não tenho condições de ampliar teus horizontes. Tenho mais dúvidas do que respostas e preciso delas para me situar, mas enxergo somente nuvens carregadas na minha frente: repletas de interrogações. Não quero mais escrever, querida. Me determinei vir até aqui apenas para pedir desculpas, e imploro que pare de exigir opiniões e um ombro amigo, não posso fazer isso. As minhas verdades, felicidades e prazeres não são os teus, então, por favor, afunda em ti mesma e descobre o que é bom ou ruim, certo ou errado, bonito ou feio, pra ti. Não exija de mim a consideração e apoio que não dás a ti mesma, estou cansada de te pegar no colo e ninar. Deu. Te amo, mas não posso te defender eternamente das maldades das pessoas e do mundo. Desculpa, querida, mas as minhas privações não te impedirão de crescer.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sempre é percebida a nostalgia pela qual as pessoas rememoram a infância. Confesso que nunca entendi esse processo direito, sempre quis refletir mais sobre. Não que a infância não seja uma fase interessante, de descobertas, de ingenuidade e alegria, sim, ela é tudo isso e mais, disso nunca duvidei. Mas, se analisarmos mais a fundo, poderemos constatar que é, com certeza, infantilidade das pessoas quererem retornar à infância por simplesmente retornar. A infância não pode ser recuperada, assim como tudo aquilo que faz parte do passado. As pessoas escolhem soluções ‘simplistas’ para solucionar seus anseios atuais, visto que o retornar é inatingível, o que passou não pode voltar, e assim temos todos problemas sem soluções realistas.

A maturidade é algo conquistado com tanto esforço, que acaba se tornando um peso para grande maioria, e surge daí também a idéia errônea de que na infância tudo é maravilhoso e de que não sofríamos, e isso está completamente errado. Sofríamos sim, talvez até mais do que hoje, por que não tínhamos capacidade suficiente para compreender que o mundo não era só nosso, nem feito apenas para nós.

Quando conquistamos a maturidade desenvolvemos nossa independência em relação a outras pessoas e desenvolvemos, se quisermos, é claro, a capacidade de lidar (com) e entender nossos sentimentos. A infância é por nós valorizada e glorificada, por que não queremos nos dar a chance de crescer e se libertar do que quer que seja.

Na infância não compreendemos direito aquilo que sentimos, não temos maturidade emocional para explicar e trabalhar nossos sentimentos, então, o que fazemos é chorar, chorar, chorar, até que alguém resolva compensar essa nossa lacuna com um afago, um brinquedo, ou um doce. Somos ‘indefesos’, ingênuos e dependentes, esperamos que alguém resolva nossas dores e nossos anseios.

Esquecemos, quando adultos, de que quando dependemos de alguém não temos liberdade para decidir as coisas, precisamos da aprovação alheia, do consentimento alheio. Acredito que ninguém, de verdade, queira depender de alguém, seja essa pessoa um pai, uma mãe, um irmão, um amigo, um namorado. Para quê? Quando dependemos da compreensão e atitude alheia sempre acabaremos nos decepcionando, por que as únicas pessoas capazes de nos fazer crescer, maturar e libertar, somos nós mesmos. As pessoas não têm a capacidade de saber o que se passa na mente, no coração e na alma da gente, portanto, cabe a nós mesmos decidir o que queremos de nossas vidas, de nossas escolhas, de nossas relações e de nossos sentimentos, mais ninguém.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Faço jus aos feminismos do meu ser quando sou delicada, compreensiva, amada. Quando sou bruxa, sou o quê? Alguém sem sexo, identidade. Me torno aquela, que não me é nem um pouco desconhecida, minha graciosa maldade. Faço clarear à mente, as idéias e a base de todo o meu rancor, para que por fim, meu coração, se deságüe diante de tanto ardor.

Destruo e apago, todos aqueles sonhos piegas que mantenho há tanto tempo, o pó que deles é resto, suja o chão esbranquiçado e antes limpo, esmago a sujeira com a sola dos meus sapatos justos, aperto o calcanhar com força petrificada e me desminto.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

É tão difícil se fazer entender, descrever as coisas com aproximação assombrosa, ser compreendido sem distorções, por mais que se tente. É sutil a linha que separa o entendimento e a realidade do medo insano de se perder.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Formação de palavras: normal (norma + al).

Desde quando a norma se tornou o normal?

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ganhei o dia no fim do dia.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Se eu pudesse mudar alguma coisa, repetiu ele. Estávamos há muito tempo a conversar. Ele estava deprimido, em uma daquelas crises existenciais que costumava a ter. Não me era novidade. Atirado ao sofá ele continuava: Se eu pudesse mudar alguma coisa... Não conseguia terminar a frase. Talvez não fosse apenas alguma coisa que gostaria de mudar, mas talvez muitas coisas, pensei. Ou talvez estivesse bêbado e com antidepressivos demais na mente, no estomago, no coração, para falar alguma frase que fizesse sentido. Enquanto eu estava de pé com certa distância sua, aguardando o momento em que ele fosse cair, desmaiar, morrer, de tanta dor. Muitos minutos se passaram, até que ele, finalmente, conseguiu continuar sua frase dolorida. Se eu pudesse mudar alguma coisa, qualquer coisa, imploraria a Deus que arrancasse de mim toda a minha lucidez. Bonita frase, falei para mim mesma, enquanto dei uma pequena risada irônica. Não sabia se decidia ficar assustada ou agiria com naturalidade, mas a verdade era que eu já sabia perfeitamente o que ele iria dizer. Ele lá, desolado, desalmado, atirado naquele sofá. Eu ali, em pé, compreensiva a sorrir. Sim, eram tão absolutas todas aquelas palavras e tentativas frustradas de frases, que tudo que consegui fazer foi apenas sorrir e pensar. Sim, eu sei. Começou então ele a chorar, corri para acalmá-lo. Estávamos abraçados, enquanto ele dizia que não tinha mais esperanças, estava afundando, afogado em lágrimas e dores. Chorava ao descrever seu infinito aperto no peito, sua infindável ansiedade e aquela maldita falta de não-sei-exatamente-o-quê. Compreendi naquele instante. Ele era minha alma e eu a sua. Estávamos fundidos, éramos um só, enquanto ele chorava tudo aquilo que eu jamais havia conseguido chorar, soluçava por mim, no meu lugar. Minha lucidez dói em mim, continuou. Em mim também, pensei. Minha lucidez me impede de ser feliz, ela desmascara toda realidade podre em que vivo. Em que vivemos. Como eu gostaria de ser mais um individualista, egoísta, moralista comum. Como eu gostaria de ser como aquela moça, que passa ali na rua, que acredita que sua vida é boa e que uma festa e uma garrafa de uísque barato podem solucionar todos seus problemas. Como eu gostaria de ser assim, ele repetia. Como eu gostaria de ser feliz, burra, alienada, gorda, e completamente feliz, como ela.

terça-feira, 19 de maio de 2009

E a crítica mordaz fez-se novamente. Estamos cercados de ditadores, falo sério. Não foram poucos comentários, mas muitos, afirmando que Marisa Monte enlouqueceu, pirou, se vendeu, não tinha mais o que falar, por cantar uma música que cita nomes de comidas, mais precisamente doces. O que tem de tão revoltante? Músicas consideradas decentes só falam de anseios amorosos e, quando muito, manifestações políticas. Por que não comida?

O nome da música é ‘Não é Proibido’. Veja que bonito. Marisa, ao final de sua carreira, canta uma musica que em sua maior parte, cita doces. Naturalmente causou ódio, indignação e repulsa naqueles mais desavisados. É lógico que comidas não são proibidas, muito menos doces. Acontece que depois de um certo tempo cansamos do que é proibido, o proibido é trabalhoso. Por que então, não nos divertirmos com o que nos é acessível e permitido?

Mas ainda vou lhes contar um segredo: a musica é irônica. ‘Traz todo mundo, tá liberado, é só chegar. Traz toda a gente, tá convidado, é pra dançar’. Calma, não crucifiquem Marisa. Os doces dela não são proibidos como outros tantos espalhados por aí, e nem por isso deixam de ser alegres e divertidos. E como ela mesma canta: ‘Não precisa bancar o bacana’.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Peço perdão à indústria farmacêutica e as indústrias de cosméticos em geral. Minhas mais sinceras desculpas. Triste e melancólica vou contar minha verdade: não consegui preencher suas expectativas. Todos estes cremes, perfumes e desodorantes que foram criados para perfumar nós, mulheres, falharam comigo, assim como falhei com eles também. Sabe. Não sou tão floral e delicada como vocês, que criam estes cheiros, esperam que eu seja. Tampouco sou sutil a ponto de ser suave. Sou mulher, fêmea, mas não sou doce como os cheiros que foram incumbidos ao meu sexo. Em realidade, sou cítrica demais para exalar perfume de flor. Sou tão cítrica que, às vezes, chego a ser azeda. Larguei por fim, entristecida, os perfumes ditos femininos. Larguei por que eles simplesmente não retratarem a mulher que de fato sou, mas a mulher que querem que eu seja.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Prefiro um inconformista agressivo a um conformista imbecilizado.
Cansei de ser sujeito, agora sou apenas objeto.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sim, passou. Não tive tempo de correr e te alcançar. Aquele tempo enfadonho em que minhas mágoas e incertezas se diluíam com os teus sentimentos sádicos desavisados. Ar pesado, temperatura nostálgica e nuvens de tristeza. Apego-me às memórias, e as agarro tão forte que começo a fatigar. Preciso desesperadamente das lembranças. Minhas fontes com o passado estão dia a dia mais escassas, enquanto eu me pergunto o que fazer e o que achar das coisas que fogem ao meu controle. Nem foi tão bom, mas foi. Quero de volta. Quero com a mente de hoje, com os pós-fatos sabidos, viver então. Aquele leve aperto no coração desapareceu, enquanto eu desolada, morta, vomitando nas paredes, tento encontrar um sentido em todo este esterco. Vida desgraçada, desregrada. Malditas pessoas frenéticas e desvairadas que andam por toda parte como zumbis. Nostalgia sentimentalóide torturadora. Tiro a casca da ferida, quero, e muito, que ela doa. E gosto, gosto por que quero sentir a vida escorrendo dentro de mim. Preciso, por ao menos um segundo, sentir-me um pouco mais dentro deste corpo que já não mais me pertence.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sou incompetente por natureza, logo não me esforço para tanto.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Viver é entediante e ao mesmo tempo misterioso. A ausência da palavra ‘entediante’ em muitos dicionários é misteriosa. Entediar é um verbo. Entediante seria aquele ou aquilo que entedia, não seria? Tudo bem. Estou sendo espirituosa demais, e otimista também, mas o que me resta ser?

Talvez o nosso tão almejado veneno antimonotonia seja romancear os fatos. Criar, quem sabe, personagens absurdos e inexistentes. Criar histórias, enredos e papéis a serem observados pelo nosso olhar limitador e restrito. Inventar vidas fictícias para as pessoas que cruzamos nas ruas. Amantes, amores platônicos, desencontros, medos, crises existenciais. Por que não? A vida é mistério, mas é tão previsível quanto.

As coisas podem ser bem chatas às vezes. Acordar cedo, dor de garganta, falta de dinheiro. Esse querer ser feliz ‘para sempre’ nos aniquilou de vez, deixou-nos mais velhos e mais gordos. E mais desinteressantes também. Poderemos ser qualquer coisa: curiosos, questionadores, silenciosos e inquietos para sempre, mas, felizes jamais. Ser feliz acomoda e o comodismo nos impede de pensar.

domingo, 19 de abril de 2009

Por que a arte é tão solitária?

terça-feira, 7 de abril de 2009

Os dias da semana me servem de consolo, esperança. Nestes dias me rendo à realidade pura e simples. Dias em que não preciso esperar grandes acontecimentos, posso apenas viver e sobreviver em paz. Dias em que minhas expectativas não sucumbem além do trivial, uma torta de chocolate, quem sabe. Nestes dias que me permito, com louvor, viver de simplicidades, distraindo-me com coisas não tão magníficas e esplendorosas. Dias estes que me acalmam, aconchegam e protegem do mal que toda e qualquer decepção que uma grande expectativa poderá me trazer.

Chega então Sexta-feira, ah, que dia infernal. Minhas inquietações renascem, afloram. Cai o peso do mundo em minha cabeça: preciso me divertir de qualquer jeito, afinal, é Sexta-feira, não é? Encha sua cara e estrague suas idéias com um baseado barato. Expectativas para uma incrível Sexta-feira, por mais que em quase cem por cento das vezes, elas nunca se concretizem.

Sábado, então, o tormento aumenta. O dito melhor dia da semana precisa ser inesquecível. Pessoas reunidas, risadas inacabáveis, coisas divertidíssimas para depois contar aos idiotas dispostos a escutar. E não se tem desculpas, você não fez nada o dia todo, apenas leu... 'trate já de tomar um banho, vista sua melhor roupa e vá exibir-se por aí'.

Domingo é a tristeza do quase fim. 'Poderá fazer o que quiser, mas não até muito tarde, por que amanhã, infelizmente, a semana começa de novo'. Regras de comportamento. Padronização de felicidade. Ou faça isso, ou não viverá plenamente. Não perceberá o sangue da juventude correndo em suas veias. 'Só assim se é feliz, entenda'.

Eis que Segunda-feira surge como um sol para o meu coração aflito. Aflito por não se divertir nos dias em que deveria, aflito por não suportar felicidades programadas. Será que é assim tão fácil? Será que meu botãozinho cujo nome é ‘diversão’ emperrou?

Pensei nisso em uma Terça-feira normal, comum, trivial, chame do que quiser, na cozinha de minha casa enquanto preparava alguma coisa para comer. Pois, até onde meus parcos conhecimentos de mundo me sustentam, alguém em 'perfeita' e 'saudável' sanidade jamais me diria: Vai, minha filha. Vai sentar ali, tomar sopa em pó solúvel com bolachas água e sal e ser feliz.

Que belo conceito de felicidade este que me ensinaram.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Tenho observado, há bastante tempo, que existem muitas pessoas se utilizando de suas opções sexuais como motivo para vulgarização de suas palavras e justificação de suas atitudes grosseiras. Sem opção sexual especifica, cito heterossexuais, homossexuais, bissexuais, seja lá o que for, são tantas opções e apenas dois sexos.

É estranha a confusão que as pessoas criam para poder se encaixar em algum conceito, seja ele qual for. Elas parecem até querer e gostar dos rótulos que lhes são atribuídos. Os conceitos que devem se encaixar nas pessoas, não o contrário. Tenho notado, de forma gritante, que a liberdade sexual está se confundindo com liberdade de caráter.

Às vezes, se está ‘a favor’ da maré e acredita-se ter algumas vantagens por isso. Mas, penso, que as coisas funcionem de outra forma. Para ser homem heterossexual, por exemplo, são necessários várias pré-disposições, quesitos e cumprimento de certos padrões de comportamento. E saiba que independente da posição que você estiver, do lado que estiver, você terá que cumprir convenções. Temos consciência do quão desgastante é tentar se encaixar nos padrões a qualquer custo?

Outras vezes se está ‘contra’ a maré, contra pelo simples fato de não se ter a opção que é considerada a mais correta. Estar contra já é difícil e complexo, pelo simples fato de estar. Mas se extrapola, para variar. Só por que se está contra a maré em um determinado ponto, é preciso escancarar todas as portas e janelas e fazer o que bem entende com o resto, jogar valores e princípios pro alto?

Inversão de valores em todas as posições. Distorção de liberdade sexual, principalmente. Cada opção com sua dor e com o seu peso de existir. Cada um com suas confusões e inseguranças. Cada um agindo apenas, sem pensar, tantas vezes. Cada um existindo, aceitando e não questionando nada sobre si mesmo, sobre o mundo que nos cerca e sobre a sociedade complicada em que vivemos. Quais os valores que estamos pregando? De que maneira estamos agindo? Quais as sementes que estamos plantando, afinal?

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Quero a certeza, quero dados, tabelas e gráficos. Que saber tudo o que se passa neste instante e tudo que vai passar. Quero saber o amanhã e o depois de amanhã também. Quero ter certeza até das minhas próprias incertezas. Quero. Quero e preciso viver nesta tortura angustiante que é não ter certeza de nada. Existe algo absolutamente certo, estanque, indestrutível? Existe algo tão sólido que nada, absolutamente nada, é capaz de desintegrar? Isso, meu caro, esse controle, é falta de fé em Deus, na vida e, principalmente, em mim mesma.

quarta-feira, 25 de março de 2009

No teatro da alma, máscaras são distribuídas com suas pesadas facetas de incoerência. Lutamos vidas inteiras contra, ou a favor, destas máscaras. De quando em quando, captamos pequenas pistas a respeito do personagem principal, o protagonista de toda obra, o verdadeiro eu, que mais cedo ou mais tarde, irá se revelar diante à platéia.

sábado, 21 de março de 2009

Toda pessoa é um escritor, pintor, músico, bailarino, um artista em potencial. São poucas aquelas que não tem medo de se expor ao ridículo. Pessoas que acreditam no valor de expressar seus sentimentos mais profundos e não se deixar intimidar por eles. Ridículos todos somos.

Ridículo é acharmos que somos muito diferentes uns dos outros, uns mais e outros menos especiais, quando, na verdade, somos todos um pouco egoístas, críticos, sádicos, invejosos e paranóicos. Somos gente, e gente é como é: podre, pobre, hipócrita. Gente influenciada por tantas correntes de pensamento opostas que acabam se desencontrando pela estrada. Gente que não sabe o que pensar sobre as coisas. Gente que destrói o outro com a boca e, por outro lado, o acaricia com as mãos.

Ser artista é ter sensibilidade aguçada, ainda que, muitas vezes, não se tenha maturidade suficiente para isso. O artista cresce pela dor. A dor de enxergar e sentir coisas que a maior parte das pessoas não se permite, apesar de possuírem plena capacidade para isso. O artista imaturo vê o seu próprio lado feio e se deprime com isso. Vê, também, o lado feio dos outros e foge de tudo como uma criança, por achar que nada mais tem solução. Enquanto o artista presunçoso acha que pode mudar o mundo e se revolta contra ele.

- Mas há de ter uma solução, uma resposta, uma receita, queridos. Digo eu, numa esperança melancólica e quase que desesperada. - Tem que ter.

terça-feira, 17 de março de 2009

Quantas vezes tentamos controlar os sentimentos, fatos e acontecimentos. Quantas? Acreditamos que o apego às coisas nos fará resgatar o passado. Estamos envolvidos em nossas paranóias tentando controlar o tempo, que é uma das coisas mais dinâmicas que existe e, quando menos se espera, ele se deixa escorregar pelos nossos dedos. Tempo roubado. Tempo perdido e desperdiçado. Apegar-se ao tempo é uma das atitudes mais insanas que pode existir, ele sequer olha para trás e pensa em estagnar. O tempo, talvez, seja nosso maior exemplo, no qual apenas visualiza o que está à frente, determinado, passa simplesmente, desapega-se de tudo e todos de forma brilhante e madura, e ainda sobrevive a isso.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Por que nasci tão repetitiva, Deus do céu?!
Dói mais que qualquer despedida, qualquer desencontro. Dói mais do que qualquer dor dolorida. Mais que alfinete espetado embaixo de unha. Ah, as alegorias e as metáforas singelas, escolhidas de maneira aleatória em uma desesperada tentativa de tradução da realidade. Refiro-me, apenas, às tristes situações nas quais nos limitamos a emitir um simples 'olá' àquelas pessoas que há tempos atrás, inevitavelmente, fizeram parte de nossa vida. E a troca que antes fluía? O afeto, onde foi parar? Desculpa a sinceridade, meu bem, e quer acredite, quer não, ele se perdeu ralo abaixo.

Foi ano passado, acredito, que debati fervorosamente este assunto com uma amiga. Numa Sexta-feira, ainda lembro, aula de Inglês. Ela expressava seus sentimentos de maneira pura e verdadeira, tanto que ainda lembro nitidamente, e aquilo soou bonito para mim. Já haviam surgido outros, ela sabia. Mas a curiosidade era tortuosa quando a incentivava parar aquele ser, ser humano, já não mais fundamental em sua vida e, perguntar. Perguntar banalidades. 'Como vai vida'? 'Como vão as coisas'? E os amores que vieram depois de mim, quem são?

Sabemos da monotonia de nossas vidas enquanto simples mortais. Sabemos tanto. Sabemos que grandes e cruciais fatos não devem ter acontecido, nem pretendem acontecer. Sabemos até mesmo que você não mudou muito, em realidade, eu, displicentemente, mudei muito pouco. Continuo aquela porcaria que você já conhecia, aquela porcaria que você um dia amou e agora, repudia.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Poema dado no primeiro dia de aula:

O adeus é uma porta que range

O adeus
é uma porta que range.

Árvore tombada
sobre a calçada.

Choro de criança
rebatendo entre as paredes
encardidas dos edifícios.

O adeus
é jardim destroçado
pelo retouço dos cães.

Sigo na contramão
das lembranças,
mas não olho para trás.

Atrás de nós
os sinos não dobram.

Atrás de nós
há uma passeata de culpas,
e o remorso que não nos poupa
em seus discursos.

Vou em frente.
Tiro a poeira dos sapatos.
A casa é clara
e a roupa, limpa

Abro a janela
e setembro pula no meu colo
como se fosse
um gato de estimação.

(Luiz Coronel)

Logo eu, insensível que sou, reconhecendo o valor de uma poesia, ainda que simples.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Li novamente o conto 'Anotações sobre um amor urbano' de Caio Fernando Abreu e, claro, ele continua possuindo a capacidade de me tocar.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Percebo então a veracidade da frase na qual insistimos tanto em repetir, mas que se tornou banal devido à nossa irritante insistência. 'As pessoas são lindas', o que isso exatamente quer dizer? Ora, que burra eu fui, são lindas por serem o que são: únicas.

As pessoas são lindas por que, invariavelmente, se questionam à respeito dos fatos, são lindas por que amam da melhor maneira que conseguem amar. As pessoas não são apenas lindas, mas maravilhosas, por acreditarem ainda umas nas outras, e tentarem perdoar quantas vezes forem necessárias. As pessoas são lindas por terem força para acordar todos os dias, escovar os dentes e seguir em frente.

As pessoas são lindas pelas dores que sentem. São lindas pelos livros que lêem, e pelos que não lêem também. São humanas, as pessoas. São aqueles traços de igualdade ou semelhança que existem e persistem em todos nós. As pessoas são lindas, por serem apenas pessoas.
Por trás de toda malícia existe uma pequena ponta de ingenuidade.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

'Desculpa o auê, eu não queria magoar você'.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Então, depois de tanto tempo me determinei a transferir todas as minhas raivas para o papel. Saiba que elas não são poucas, porém, suponho eu, que no momento em que eu as estiver transferindo, descobrirei como que em um passe de mágica a principal raiva, a raiva mor, aquela que me faz sentir todas as raivas. Fiz uma lista, e isso pode até soar cômico, mas tem uma importância absurda para mim, quem sabe, tire essa tensão constante em que vivo da minha mente e costas.

Raiva número 1: Do meu pai. É com todo o meu ódio que dedico o primeiro lugar ao meu progenitor. Parabéns papai, você ganhou, por ser um completo idiota. Parabéns por repassar para mim muitas das suas amarras e conceitos distorcidos. Por me fazer “quebrar” a cara inúmeras vezes, por ter sempre respostas prontas a respeito das coisas, enquanto o tempo me fez perceber que nem sempre respostas prontas são reais, lúcidas e certeiras. Cresci acreditando na sua autoridade e na sua genialidade, hoje percebo o quanto é infantil, machista, preconceituoso ao extremo, rígido e, com certeza, uma criatura infeliz.

Raiva número 2: Da minha mãe, na qual acreditei ser uma inútil e sem posicionamento por muitos anos graças ao meu pai, no qual desprezava e despreza tudo aquilo que brilha mais do que sua consciência limitada pode entender ou apreciar.

Raiva número 3: Raiva de todas aquelas pessoas que, segundo eu mesma, deveriam ter me amado, mas que não amaram. Que deveriam dizer que sou única, e não me trocar por uma comunzinha qualquer, já que eu sou maravilhosa, não sou?

Raiva número 4: De todas aquelas mulheres e meninas que eu considero mais bonitas que eu, sim, elas roubam meu lugar na cena, lugar de quem deveria ser a protagonista todo tempo, eu.

Raiva número 5: Raiva por não poder comprar sempre o que quero, ou seja, todas as coisas que desejo e vejo. Quero, quero, quero, e agora.

Raiva número 6: De todas as mulheres e meninas burras deste mundo, que se contentam com pouco e que acreditam em tudo que lhes dizem.

Raiva número 7: Raiva do meu péssimo inglês, por odiá-lo tanto na época em que deveria aprendê-lo.

Raiva número 8: Raiva por odiar demais.

Raiva número 9: Raiva de mim mesma por todas as vezes em que fui covarde e desisti.

Raiva número 10: Raiva de mim mesma por tentar mudar as pessoas da maneira que eu gostaria que elas fossem.

Raiva número 11: Raiva de todos aqueles caras que nunca gostei, mas que gostaram de mim, e por razões diferentes desistiram.

Raiva número 12: Raiva da minha gordura localizada.

Raiva número 13: Raiva do chocolate amargo da Lacta, por ser tão bom.

Raiva número 14: Raiva desta minha raiva eloqüente que me consome por dentro todos os dias. Me mata, me delata e me destrói.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Enquanto me divertia distraída analisando e experimentando os recursos de um editor de texto qualquer, o telefone toca, atrapalhando minha solitária paz egoísta. Era você, pedindo um minuto de atenção, dizendo que sente saudade. O quê? Depois de tudo que aconteceu você pensou melhor e apenas acha que errou? Não tenha só a certeza de que errou, mas que errou muito, muito feio. Errou mais do que todos os seres errantes deste mundo, porque você me magoou. Destruiu todas as minhas ilusões que, sim, me eram cômodas. Estava tudo tão aconchegante e macio... Me esqueça, apenas. Não sinto saudade alguma, nem qualquer resquício de sentimento. Para mim, você já se foi, e há muito tempo.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Não mudei muito, vejo isso por simplesmente concordar com absolutamente tudo que escrevi há dois anos atrás:

'O que me cansa, pra falar a verdade, é falar sem parar sobre todas as coisas e rir sem nem ter tanta vontade assim. Não é depressão, não é mau-humor. Mas não consigo deixar de pensar nisso, não consigo. Não é preciso falar, falar, falar, pra dizer alguma coisa. As pessoas não têm sempre coisas importantes pra dizer, então, com toda educação, cale a boca, por favor.

O silêncio não é constrangedor, é um espaço vazio muito bem preenchido, obrigado. É vazio para quem é vazio por dentro, que não suporta o seu próprio silêncio. Antes um espaço vazio, a um espaço cheio de porcarias. Peço novamente, cale a boca.

Não quero tornar a vida um jogo de conversas que somente servem para passar o tempo, não preciso disso, acredito que você também. O tempo é passageiro demais para ser preenchido com futilidades como as suas, as minhas'.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Neste conto de fadas às avessas eu era a groupie insensível e você o roqueiro desencontrado. Éramos tão clichês que me recuso a contar muitos detalhes desta história.

Seu jeito espontâneo, criativo e único atraía mais mulheres do que eu poderia imaginar, mas eu sabia também que você não se apegava a elas, por serem burras demais, ou fúteis talvez, para entender sua personalidade complicada e suicida. Você e esse seu inferninho interior não se permitiam, e ainda não se permitem, um minuto de estabilidade e paz, então fique sabendo agora que fiquei dias, meses e mais algumas horas tentando entender seus mecanismos de fuga e, cheguei a triste conclusão de que você era apenas uma criança com sensibilidade demais que não cresceu como deveria.

Enquanto eu, tudo bem, não era uma adulta exemplar e apesar dos meus quase trinta anos, naquela época, agia como uma adolescentezinha rebelde. Saiba que não me orgulho disso. Fingia ser fria e desapegada, mas na verdade era insegura e possessiva. O fato é que as pessoas eram idiotas demais para me perceber de verdade e acabavam por pensar que, realmente, eu não tinha sentimentos. Talvez o sentimento mais próximo de amor que senti foi em relação a você, hoje não escondo mais isso.

Talvez nem próximo de amor, na verdade, eu nos observava como “um amor em potencial”, é isso. Algo que nunca aconteceu, apesar de nossas noites de bebedeiras e risadas juntos, mas que caso acontecesse não teríamos como fugir, seria para sempre.

Quantas vezes esperei por alguma resposta definitiva. Hoje, anos depois, enxergo minha infantilidade. Você me amou, e eu te amei também. Mas nossa imaturidade nos fez evitar o envolvimento ao máximo por apenas medo sofrer depois, ou sofrer ainda mais do que já sofríamos até então.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A última coisa que quero é reviver o passado através de pensamentos e lembranças que insistem em gotejar na minha mente. Memória seletiva, é isso que eu tenho. Certas coisas esqueço com tanta facilidade que até me surpreendo, enquanto outras recordo com nitidez assustadora. Cores, toques e principalmente cheiros. Lembranças estas que fazem meu coração doer, mas, no meu rosto, nada se pode notar. Acabo de novo me torturando em busca das mesmas perguntas que, quem sabe um dia, obterei as respostas. Por quê, afinal?

Os dramas do passado insistem em voltar, quando, na realidade, nem os do presente consigo resolver.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Olhei por cima algumas postagens antigas deste blog, fiquei extasiada com a quantidade de merdas que já pensei e escrevi, mais ainda com a quantidade de erros de Português contidos nos textos. Eu, como estudante fervorosa de Letras, não me culpo por não saber todas as regras chatas do nosso Português Brasileiro, pois tenho consciência de que tudo isso não é uma falha somente minha, na verdade sou apenas o resultado de uma seqüência de acontecimentos históricos e sociais sofridos por nossa população em geral. Portanto, considero incoerente julgar alguém que escreva errado, quando na verdade isto só confirma as falhas e a falta de sentido nos métodos de ensino de língua atuais, pois, se caso fossem eficientes, todos nós escreveríamos muito bem, obrigado.

Os alunos de ensino médio e fundamental que escrevem um pouco melhor que a média, em sua maioria, é por simples interesse particular, enquanto aqueles que dependem do estímulo da escola encontram-se perdidos entre verbos e conjugações. Aprende-se a escrever um pouco mais ‘corretamente’ na faculdade, e isso é uma vergonha, digo isso como estudante de Letras, quanto aos outros cursos não faço idéia. O que vale a pena lembrar é que a língua é um instrumento de comunicação e a escrita uma forma de sua utilização que, obviamente, exige o uso de convenções pré-estabelecidas, caso contrário cada pessoa escreveria da maneira que quisesse.

O ponto é: a supervalorização das convenções, pois, é sempre bom lembrar que embora elas existam, o que importa realmente é o conteúdo dos textos. Já vi professores no Ensino Médio criticando alguns escritores e cronistas pelos erros de Português presentes nos livros, jornais, revistas. Tudo bem, mas estes livros, jornais, revistas provavelmente tenham um corretor ortográfico exclusivamente pago para essa função, e não é que ele erra e não percebe também? Essa tendência geral de não dar crédito para quem comete erros de português é totalmente preconceituosa, temos tantas pessoas sensíveis e com tantas coisas legais para dizer, mas que muitas vezes não são levadas a sério por sua maneira de escrever e, juro, é assim mesmo que acontece. Analisando dessa forma, as convenções da escrita ao contrário de facilitar, dificultam.

Obs: Eu não sei tirar férias.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Seus cabelos escuros contrastavam com sua pele clara e esbranquiçada. Sua postura era sempre arrogante e imponente, por mais que, às vezes, não quisesse parecer desta forma. Possuía um rosto bonito com traços fortes, olhar profundo, boca farta e pálida.

Eu a achava linda, me perdia inúmeras vezes contemplando a sua beleza demasiadamente confusa. O modo como piscava, falava e se movimentava, todos os seus gestos pareciam ser pré-estudados e planejados. Movimentos estes que evidenciavam a delicadeza na qual ela tanto teimava em esconder.

Raramente sorria, era discreta. Chegava tímida e aos poucos tomava a atenção das outras pessoas, ora por sua excentricidade, ora por sua ousadia. Era charmosa sem se tornar vulgar, era requintada e complexa, mas ao mesmo tempo simples e pobre. Gostava de cores quentes e vivas, apreciava os gostos fortes, as bebidas, os temperos e os tabacos.

Para os que não a conheciam transmitia uma imagem frívola, descrente e desapegada, porém bastava um pouco de aproximação para sentir a profunda intensidade de seus sentimentos, jamais superficiais, ardia com suas paixões e, por conseqüência, com seus ódios também.

Lutava internamente pelo equilíbrio, por cansar de si mesma muitas vezes, cansar de seus sentimentos extremados. Acreditava em alguma força divina superior, embora a descrença, às vezes, lhe batesse a porta, porém sua fé e necessidade vital de crer em algo maior permitiam que rapidamente retornasse as suas crenças anteriores. Apegava-se com facilidade às coisas, mais ainda às pessoas, existia muita raiva dentro dela, muito desespero.

Escondia-se atrás de uma maquiagem pesada, cabelos ondulados, unhas avermelhadas. Por ironia do destino, filha única. Além de todos os seus demônios, carregava consigo o peso e a culpa de ser única, exclusiva, amada e não se sentir digna de tal profecia, por ser egoísta e cruel, uma dama. Seus mistérios, os quais nunca conseguirei descrever em totalidade, me encantavam e muitas vezes flagrei-me perguntando a Deus o que Ele planejou ao colocar aquela doce flor delicada em minha vida, na verdade, em nossas vidas.

O que me doía, ainda me lembro, era a sua visível infelicidade. Sua inadaptação e sua luta constante contra si mesma. Não se acreditava merecedora da felicidade, ou digna de qualquer bem estar, de qualquer afeto. No seu íntimo, ela se sentia um verme perto de todos os outros, seu maior erro era comparar-se.

Com sua ingenuidade observava outros rostos satisfeitos e sorridentes, enquanto ela chorava por dentro tentando entender seus demônios internos. Era insegura, mas não havia motivos para ser. Não se amava. Destruía-se lentamente toda vez que encostava algum copo de cristal fino em seus lábios, entorpecia-se. Suicidava-se toda vez que, com sua piteira, tragava o mais forte dos cigarros. Baforava lentamente a fumaça escura, e aquele gesto me dava arrepios, pois depois procurava alguém que a estivesse observando e, como ela mesma previa, sempre haveria alguém extasiado por sua quase perfeição de existir.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Cérebro, eu quero descansar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A melhor maneira de entender o papel da literatura é encarando-a como uma forma de atuação dentro da sociedade, onde ocorre a troca de informações, conhecimento e idéias, reconhecendo que sua dinâmica é essencial e vital para até mesmo o mais ‘inculto’ dos homens.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A gente, às vezes, faz coisas sabendo que vai dar errado. Eu, por exemplo, sempre soube que quando se coloca café no microondas não dá certo. Por quê? Não dá, simples. Esfria rápido, não solta fumaça por mais quente que esteja e a xícara queima quando tocada. Tudo bem, já tinha prometido a mim mesma nunca mais tomar café de microondas, nunca. Quantas coisas prometi jamais voltar a fazer? Então, hoje, a praticidade falou mais alto, ou então o esquecimento, porque eu sabia que não gostava de café de microondas, mas não lembrava mais o porquê. Pego a caneca com aquele líquido escuro e gelado, coloco naquele eletrodoméstico desgraçado que, segundo a maioria, facilita a vida, mas eu discordo totalmente, e ligo o botão. Um minuto, um minuto e meio. Um alarme curto, agudo e infeliz. Acrescento açúcar, claro. Bebo. Droga. Acabo de recordar por que não gosto de café no microondas, afinal como esquecer? Onde se aciona o nosso dispositivo de sobrevivência nessas horas? Pois você já passou por aquela situação milhões de vezes, já deu um basta, e em um dia qualquer esquece tudo e nem sabe o motivo de tanto ódio e repulsa. Minha revolta não se resume à apenas cafés de microondas, mas a todas aquelas coisas que você sabe que não têm solução, não têm jeito, mas que do nada se esquece tudo e põe fé, para não se dizer conservador e radical, para dar uma nova chance, por simplesmente estar disposto a renovar os velhos conceitos. Como eu poderia esquecer? Café de microondas queima a língua, e não simplesmente queima de leve, queima mesmo, de verdade. No primeiro gole já percebo: existem coisas que simplesmente não mudam.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Catei um dos livros meus que havia lido há anos e resolvi folhear, quando me deparei com esse trecho desesperado e realista:

'Não existe nada, nada, nada nesse mundo pós big-bang, nada nessa nossa galáxia em expansão, nada em todo meu ser incompleto e já em decomposição, nada que eu odeie mais do que pipoca no cinema. Eu não odeio pipoca enquanto instituição, não é isso que quero dizer. Odeio pipoca no cinema, naqueles sacos de cinco quilos com um ser humano por trás, em algum lugar. Esse tipo de pipoca. Odeio o que isso significa, que é a distorção completa do que era pra ser cinema. Cinema era para ser olhado e ouvido e sentido, e agora passou a ser comido e nossa civilização toda está indo pelo ralo, no sentido horário ou anti-horário, nunca sei, por coisas como essas, que parecem mínimas aos desatentos, mas não são. A coisa toda começa na pipoca e termina em algum holocausto, é o que eu acho. É contra isso que luto. Lutei toda uma vida, olhando feio, olhando mais feio, olhando com todo o meu mais feio eu, para quem portasse um daqueles containers perto de mim'.

Não que eu vá abdicar da pipoca, mas esse desespero travestido de humor é encantador.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Existir é simples, mais ainda cômodo. Quem existe age de forma automática. A falta de reflexão nos permite uma existência leviana. A leviandade se torna generalizada. O que faz alguém não se permitir ter sensibilidade suficiente para detectar coisas que façam mais sentido? A rigidez? O medo? Sentir dor é inevitável, acreditar na sua inexistência nos faz hipócritas. Viver desta maneira me comove.