segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Foi necessário me dar o trabalho de escrever novamente aqui, já que este é o único lugar que tenho para escrever as coisas que penso sem limite de caracteres.

Indo direto ao assunto, vim até aqui falar sobre uma cantora inglesa que conheci há pouco tempo:

Beth Orton é uma moça bem delicada. Nem bonita demais, nem bonita de menos, apenas bonita o suficiente. Magrela, branquela e com algumas sardas. Voz natural e bonita.

Realmente, não sei direito se simpatizei com a menina de cara pela simplicidade e pela naturalidade de todo conjunto que ela representou aos meus olhos e ouvidos. Enfim, numa época de tanto mega hair, dentes clareados e silicone (na bunda, no queixo, no nariz, no dedo médio...) é, de fato, gritante ver uma pessoa comum.

Não mais do que isso, Beth resumiu, ao meu ver, de maneira singela e terna, todo o sentimento da geração de 90: o tédio.

É inegável que somos a geração do fracasso, do “nadismo”, do “reproducionismo”. Somos a geração de filhos dos incansáveis dos anos 60 e 70, herdando praticamente o esquecimento total das vitórias conquistadas por eles. Somos o fim da Guerra Fria e o fracasso do Comunismo. Somos filhos de um só pai, dominador e autoritário, com o tom e a voz de entretenimento e liberdade.

Guns N’ Roses, Nirvana, Alice In Chains, Pearl Jam, Rage Against the Machine, Faith No More e Red Hot Chili Pepers.

Bandas boas, ótimas. Mas, onde estão as mulheres aí? A passagem da cantora Courtney Love na banda Faith No More durou tão pouco tempo...

Sendo assim, Beth Orton me ganhou; com o troféu de uma das visões femininas mais interessantes e reveladoras da década de 90: do que foi viver nesse período insólito e igual, inerte e impaciente, insuficiente.

“You said you stood for every known abuse
That was ever promised to anyone like you”

Stolen Car, by Beth Orton



Alguns links para quem quiser olhar (existem muitos outros, é só procurar):

Stolen Car - Beth Orton

She Cries Your Name - Beth Orton

Someone's Daughter - Beth Orton

sábado, 25 de junho de 2011

Me sinto mais jovem desde que comecei a usar creme anti-rugas. É uma mentira, eu sei, as massagens faciais que tenho feito desde então com certeza devem ter produzido mais efeitos. Na verdade, não me importa muito. Com mais rugas ou não permaneço a mesma. Que vantagem teria eu em ser uma ninfetinha gostosa e abostada? Meus olhos vêem muito mais do que necessário e o espelho, é fato, não faz parte do meu dia a dia. Meus ouvidos gostariam de ficar surdos, o mais rápido possível, para não escutar as duras e sonoras palavras da realidade. Que mulherzinha de merda foi essa que me tornei? Uma Cinderela recalcada até as entranhas? O quão vantajoso foi ser a maravilhosa, a “faz tudo”, a heroína? Meus filhos já cresceram e sequer me olham na cara. O marido, ah, o marido. Seria óbvio demais falar: se acomodou. Assiste filmes pornôs, gosta de futebol e se tornou um boçal. Que vida de merda é essa, meu Deus? Por que nossas desgraças são tão parecidas? Por que eu, agora com 50 anos, sou obrigada a pensar essas porcarias que não saem da minha cabeça? Estou acabada, envelhecida. Nenhum sacrifício feito valeu à pena. Me tornei recalcada e amarga. Uma menina de três anos em corpo de uma mulher que insiste em pedir ao papai e a mamãe que retirem de si todo o medo e a ansiedade. Não fui criada para independência, fui criada para ser mulher. Companheira, secretária, parceira. Nenhum cargo que me colocasse em primeiro lugar. E aqui estou eu, a última da fila. Aquela que abriu mão de si por todos, e que agora que todos chegaram onde ambicionavam chegar, não me sinto mais amada, tampouco mais segura. Tentei não ser egoísta, mas deveria ter sido. Tentei não passar por cima da minha dignidade, mas acabei fazendo-o. Afinal é o que as mulheres fazem, não é? É o que vi as mulheres fazendo durante toda a minha. Bastava-nos encontrar um homem, leia-se uma bela vítima, e usá-lo como objeto de satisfação. Largávamos nossos planos, ambições e agressividades, tornávamos femininas. A única verdade escondida por trás desse comportamento era o medo da responsabilidade, pois se ele, o homem, fracassava, a responsabilidade era dele. Mas se ele triunfava, a vitória era nossa, de nós dois. Nunca me senti capaz de realizar minhas próprias vitórias e sentir o sabor da incerteza que elas trazem. Nunca me foi permitido sentir, pois eu era frágil e sensível. Eu era mulher.

terça-feira, 22 de março de 2011

Vingar em muitas condições, para não dizer em todas, é bom. O que estraga é o lado cristão ortodoxo no qual nos remete imediatamente ao sentimento de culpa. Sim, as leituras de auto ajuda e as frases de caminhão inevitavelmente respingam em nossas cabeças medíocres. Vingar completa, eleva. Vingar vem do desejo de fazer sentir da mesma forma que sentimos outrora, para que, a vítima, após esse sentir doloroso, tenha o reconhecimento do seu erro e, assim, poderemos perdoar aliviados, satisfeitos. Vingar deprime o suficiente para rir sarcasticamente. Desacomada o tanto necessário para distrair da chata vida cotidiana. Vingar é importante, ou melhor, necessário. Vingar é entregar a alma ao diabo, e, convenhamos, nada melhor e mais excitante do que acolher o depravado em nosso próprio corpo.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Não é preciso nostalgia para se criar poesia bonita. A qualidade é uma classificação muito subjetiva para muitas coisas diferentes.

Não creio no obvio. A obviedade não é comovente. O sofrimento comovente é inventado, manipulado e cultivado. Todos os dias, desde o acordar até ao dormir, papéis se tapeiam ao se revestirem e travestirem de verdades. Ora entristecendo, ora alegrando. Emoções falsas, forjadas, sociais. Revoltas inexplicáveis e alegrias implacáveis: mentiras. Calúnias adaptadas, embustes apropriados, apenas o apre(e)ndido.