terça-feira, 16 de março de 2010

Alisamos nossos cabelos, pintamos nossas unhas, entupimos com maquiagens nossos poros. Exercitamos os músculos até crescerem tanto que não conseguimos nos movimentar com naturalidade, usamos sapatos de salto alto e calças jeans apertadas... Estamos tão acostumados a lutar contra nossa natureza que os desconfortos e incômodos já fazem parte das nossas vidas. Apertos, sensações de inadequação se tornaram aqueles nossos companheiros mais trabalhosos...

Nossa sorte, ou nosso azar, é o fato certeiro de que tudo aquilo que procura quebrar, mascarar, modificar a natureza das coisas dura muito, muito pouco tempo. É a realidade gritando conosco: - Parem! Parem agora de fingir esperteza e superioridade por apenas possuírem inteligência mais aguçada!

De que adianta ser o animal ‘questionador’ da natureza, se tudo o que fazemos é negar a existência dela dentro em nós?

Quando catamos os destroços de tudo àquilo que foi instituído sobre como ser homem e como ser mulher na sociedade em que nos encontramos, o estomago embrulha rude e grosseiramente. Até que ponto viemos nos mantendo aos trancos?

Dia desses me permiti experimentar parar de lutar contra tudo isso. Sim, me permiti em anos ser aquilo que de fato sou: um bicho, de cabelo emaranhado, unhas sujas e dentes estragados, sem enfeites nem confetes. Foi quando percebi que toda energia que é despendida diariamente para lutar contra minha natureza cansa muito e dura um tempo insignificante comparado à quantidade de esforço.

O engraçado de acharmos nojento ser o que de fato somos é negarmos isso da maneira mais animalesca que pode existir: com nossas unhas e dentes.