terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A gente, às vezes, faz coisas sabendo que vai dar errado. Eu, por exemplo, sempre soube que quando se coloca café no microondas não dá certo. Por quê? Não dá, simples. Esfria rápido, não solta fumaça por mais quente que esteja e a xícara queima quando tocada. Tudo bem, já tinha prometido a mim mesma nunca mais tomar café de microondas, nunca. Quantas coisas prometi jamais voltar a fazer? Então, hoje, a praticidade falou mais alto, ou então o esquecimento, porque eu sabia que não gostava de café de microondas, mas não lembrava mais o porquê. Pego a caneca com aquele líquido escuro e gelado, coloco naquele eletrodoméstico desgraçado que, segundo a maioria, facilita a vida, mas eu discordo totalmente, e ligo o botão. Um minuto, um minuto e meio. Um alarme curto, agudo e infeliz. Acrescento açúcar, claro. Bebo. Droga. Acabo de recordar por que não gosto de café no microondas, afinal como esquecer? Onde se aciona o nosso dispositivo de sobrevivência nessas horas? Pois você já passou por aquela situação milhões de vezes, já deu um basta, e em um dia qualquer esquece tudo e nem sabe o motivo de tanto ódio e repulsa. Minha revolta não se resume à apenas cafés de microondas, mas a todas aquelas coisas que você sabe que não têm solução, não têm jeito, mas que do nada se esquece tudo e põe fé, para não se dizer conservador e radical, para dar uma nova chance, por simplesmente estar disposto a renovar os velhos conceitos. Como eu poderia esquecer? Café de microondas queima a língua, e não simplesmente queima de leve, queima mesmo, de verdade. No primeiro gole já percebo: existem coisas que simplesmente não mudam.