segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Catei um dos livros meus que havia lido há anos e resolvi folhear, quando me deparei com esse trecho desesperado e realista:

'Não existe nada, nada, nada nesse mundo pós big-bang, nada nessa nossa galáxia em expansão, nada em todo meu ser incompleto e já em decomposição, nada que eu odeie mais do que pipoca no cinema. Eu não odeio pipoca enquanto instituição, não é isso que quero dizer. Odeio pipoca no cinema, naqueles sacos de cinco quilos com um ser humano por trás, em algum lugar. Esse tipo de pipoca. Odeio o que isso significa, que é a distorção completa do que era pra ser cinema. Cinema era para ser olhado e ouvido e sentido, e agora passou a ser comido e nossa civilização toda está indo pelo ralo, no sentido horário ou anti-horário, nunca sei, por coisas como essas, que parecem mínimas aos desatentos, mas não são. A coisa toda começa na pipoca e termina em algum holocausto, é o que eu acho. É contra isso que luto. Lutei toda uma vida, olhando feio, olhando mais feio, olhando com todo o meu mais feio eu, para quem portasse um daqueles containers perto de mim'.

Não que eu vá abdicar da pipoca, mas esse desespero travestido de humor é encantador.