terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Então, depois de tanto tempo me determinei a transferir todas as minhas raivas para o papel. Saiba que elas não são poucas, porém, suponho eu, que no momento em que eu as estiver transferindo, descobrirei como que em um passe de mágica a principal raiva, a raiva mor, aquela que me faz sentir todas as raivas. Fiz uma lista, e isso pode até soar cômico, mas tem uma importância absurda para mim, quem sabe, tire essa tensão constante em que vivo da minha mente e costas.

Raiva número 1: Do meu pai. É com todo o meu ódio que dedico o primeiro lugar ao meu progenitor. Parabéns papai, você ganhou, por ser um completo idiota. Parabéns por repassar para mim muitas das suas amarras e conceitos distorcidos. Por me fazer “quebrar” a cara inúmeras vezes, por ter sempre respostas prontas a respeito das coisas, enquanto o tempo me fez perceber que nem sempre respostas prontas são reais, lúcidas e certeiras. Cresci acreditando na sua autoridade e na sua genialidade, hoje percebo o quanto é infantil, machista, preconceituoso ao extremo, rígido e, com certeza, uma criatura infeliz.

Raiva número 2: Da minha mãe, na qual acreditei ser uma inútil e sem posicionamento por muitos anos graças ao meu pai, no qual desprezava e despreza tudo aquilo que brilha mais do que sua consciência limitada pode entender ou apreciar.

Raiva número 3: Raiva de todas aquelas pessoas que, segundo eu mesma, deveriam ter me amado, mas que não amaram. Que deveriam dizer que sou única, e não me trocar por uma comunzinha qualquer, já que eu sou maravilhosa, não sou?

Raiva número 4: De todas aquelas mulheres e meninas que eu considero mais bonitas que eu, sim, elas roubam meu lugar na cena, lugar de quem deveria ser a protagonista todo tempo, eu.

Raiva número 5: Raiva por não poder comprar sempre o que quero, ou seja, todas as coisas que desejo e vejo. Quero, quero, quero, e agora.

Raiva número 6: De todas as mulheres e meninas burras deste mundo, que se contentam com pouco e que acreditam em tudo que lhes dizem.

Raiva número 7: Raiva do meu péssimo inglês, por odiá-lo tanto na época em que deveria aprendê-lo.

Raiva número 8: Raiva por odiar demais.

Raiva número 9: Raiva de mim mesma por todas as vezes em que fui covarde e desisti.

Raiva número 10: Raiva de mim mesma por tentar mudar as pessoas da maneira que eu gostaria que elas fossem.

Raiva número 11: Raiva de todos aqueles caras que nunca gostei, mas que gostaram de mim, e por razões diferentes desistiram.

Raiva número 12: Raiva da minha gordura localizada.

Raiva número 13: Raiva do chocolate amargo da Lacta, por ser tão bom.

Raiva número 14: Raiva desta minha raiva eloqüente que me consome por dentro todos os dias. Me mata, me delata e me destrói.